terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Foi POSSÍVEL....Quando queremos e lutamos....É POSSÍVEL

Um profundo agradecimento aos alunos matriculados, professores, Encarregados de educação e paróquias pela imensa generosidade que revelaram nesta campanha de solidariedade que resultou em dois mil euros a favor do Centro de deficientes Profundos



Realmente, o dia 16 de Janeiro ficou inteiramente marcado pela diferença. Assim, que se passam as portas do edifício do Centro João Paulo II tudo se altera. Os corredores são silenciosos, tal como a vida dos muitos que aqui vivem.
A atmosfera vivida por nós era de plena expectativa. Eu, pessoalmente, nunca tinha convivido com nenhum deficiente profundo. Sala por sala, pessoa por pessoa, todos eram tão diferentes. Uns mais dependentes onde apenas reinava um mundo de silêncio, onde tinhamos alguma dificuldade em perceber se a sua consciência nos escutava, nos entendia. Outros, por outro lado, que apresentavam um grau menor de dependência, tinham a capacidade de comunicar e expressar de maneira a que os outros os entendessem.
Era difícil distinguir idades visto que a fisionomia era semelhante. No entanto, o que me despertou mais em cada um deles foi realmente a sua riqueza psicológica, extinta há muito da sociedade egocêntrica onde vivemos. Nas suas expressões havia uma musicalidade, uma poesia que nenhum poeta conseguiria traduzir.
Naqueles momentos percebi que apesar de tudo não damos o devido valor ao que temos. Nem eu, nem todo um conjunto de pessoas que eram conotadas de “sociedade”. Todos sabiam pedir mundos e fundos. Todos sabiam falar dos carros de topo, das roupas caríssimas que na opinião da maioria eram as mais chiques. Todos sabiam falar de um bem que, infelizmente, faz girar o mundo: o dinheiro. Mas, no fim das contas, vejo alguém suplicar por carinho e atenção. Aqueles meninos e meninas, homens e mullheres “encurralados” entre quatro paredes, percorridos alguns por tubos e tubos, percorridos pela doença, pela solidão, pela indiferença de muitos, quisá pelo desprezo de toda a família, lutava não por um bem material mas sim por um bem a nível sentimental. E, mesmo com todas as vicissitudes da vida continuavam a sorrir, a serem felizes. Continuavam a pintar, a desenhar, a cantar, a desenvolver actividades e a provarem que têm muito talento.
Confesso que toda esta visita provocou uma profunda alteração na minha maneira de pensar e de estar. Antes, apoderei-me de uma revolta consumidora e frustrante. Agora sou tomada por uma força súbita, um despertar rápido e objectivo.
É preciso encarar isto, como mais um sinal de que é preciso agir, que não nos devemos remeter ao nosso próprio umbigo, que não devemos viver em torno de nós mesmos, não podemos viver das aparências, do egocentrismo, do “a mim nunca me acontece nada disso” e só entramos em pânico quando vemos os problemas a baterem à porta.
Finalmente apercebi-me que não nos podemos acomodar, que ninguém tem posto fixo e garantido eternamente na Terra. Mas que, independentemente do tempo que aqui passarmos, podemos torná-lo melhor e mais agradável para todos aqueles que nos rodeiam. Temos o dever de o fazer, de estender a mão a quem não tem qualquer outra pessoa para a dar, de não viver das palavras mas sim dos actos.
Falta garra ao Mundo, falta energia, falta convicção.
É incrível, como há tanto que precisa de ser mudado e tão poucas pessoas dispostas para o fazer.
E é ainda mais alucinante e fantástico, como um simples gesto conseguimos arrancar um sorriso.
Enfim, há lugares em que nos sentimos puros seres cheios de tudo e de nada. Obrigada por me mostrarem o verdadeiro significado da vida.

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