quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

"Não faz mal ser diferente"

No dia 13 de Janeiro do presente ano de 2009, nós, 97 alunos inscritos em Educação Moral e Religiosa Católica, partimos rumo ao Centro de João Paulo II, na esperança de aprender a ver a vida com outros olhos e voltar com um coração mais “cheio”.
Saímos por volta das 8h30m da manhã e partimos rumo a Fátima, ao Centro de João Paulo II, onde tivemos uma breve conversa com funcionárias da instituição e entregámos 2000€, fruto de um trabalho solidário de muitos alunos, docentes e funcionários e as respectivas famílias e comunidades.
Seguidamente um grupo permaneceu na instituição e outro ausentou-se rumo ao Museu da Vida de Cristo.
O grupo a que eu pertencia permaneceu no Centro de João Paulo II, centro este que acolhe crianças, jovens e adultos portadores de deficiências graves e profundas, quer sejam mentais ou motoras, e que não têm qualquer apoio familiar ou institucional.
Neste centro visitámos várias das “residências” em que se encontra dividido e fomos capazes de conhecer pessoas bem diferentes de nós, mas nem por isso inferiores. As dificuldades que vimos nessas pessoas e a felicidade e amizade com que, apesar de tudo, levam a vida e vivem com aqueles que os rodeiam são fantásticas.
Muitos tinham vidas fantásticas e de um momento para o outro perderam capacidades que consideramos essenciais. Mas ao olharmos para eles vemos que, mesmo com as restrições que a vida lhes apresentou, mostram um sorriso e um olhar brilhante.
Depois de muitas emoções, ensinamentos e algumas lágrimas à mistura, despedimo-nos e dirigimo-nos para os arredores do santuário de Fátima e dispersámo-nos pelos restaurantes da zona, onde pudemos desfrutar do almoço.
Já de barriguinha cheia e prontos para voltar à acção, trocámos de local visitado com o outro grupo e fomos para o Museu da Vida de Cristo.
Pudemos aí observar um belo trabalho em cera e que relata a Vida de Cristo, com personagens quase reais e locais muito bem retratados.
Acabadas as visitas dos dois grupos, começámos a viagem com destino a casa. No nosso coração vinha muito mais alegria e espírito de solidariedade. Percebemos que há coisas bem mais importantes do que bens materiais, como o amor, a amizade, o afecto, a saúde, o carinho, a solidariedade (etc), e aprendemos a dar-lhes valor; a perceber que aquilo que temos é melhor do que tudo e que ter saúde para viver em plenas condições e uma família e amigos que realmente se preocupam connosco e nos amam é a coisa mais importante da vida.
Percebemos também que a diferença é algo de bom, e que é com a diferença que podemos viver e dar valor à vida.
Por isso, “Não faz mal ser diferente”, porque a verdadeira riqueza é interior e não se mede pelo aspecto e capacidades físicas. (Ana Catarina 11º A)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O SEGREDO DA FELICIDADE

«Houve reis que tentaram aprisionar a felicidade com o seu poder, mas ela não se deixou prender. Milionários tentaram comprá-la, mas ela não se deixou vender. Famosos tentaram seduzi-la, mas ela resistiu ao estrelato. Sorrindo, ela sussurrou ao ouvido de cada ser humano: "Ei! Procura-me nas decepções e dificuldades e, principalmente, encontra-me nas coisas anónimas da existência." Mas a maioria não ouviu a sua voz, e entre os que a ouviram, poucos lhe deram credibilidade.» (Augusto Cury)
No âmbito da campanha de solidariedade 2009, os alunos inscritos em Educação Moral e Religiosa Católica da Escola Secundaria de Seia visitaram, no passado dia 13 de Janeiro, o Centro de Deficientes Profundos João Paulo II, em Fátima. Íamos de espírito aberto, curiosos e ao mesmo expectantes com o que iríamos encontrar. Já sabíamos que seria uma experiência que nos iria marcar mas, falo por mim, nunca imaginei que tanto.
Após uns instantes iniciais de algum retraimento, aproximamo-nos dos doentes, fizemos festinhas, sorrimos, falámos, sentimos. Nesta situação, despertámos o olhar dos nossos corações, que, ao contrário dos nossos olhos, é capaz de captar a beleza que está para além do corpo. Senti um carinho enorme de todos os funcionários por aqueles doentes, admirei a sua dedicação e competência. São uma família para eles.
Esse dia resultou numa experiência fantástica que, tenho a certeza, jamais iremos esquecer. Aprendemos muito com todos eles, sobretudo a respeitar ainda mais os que se encontram naquela condição, pois todos nós estamos sujeitos a tais destinos. Assim, aprendemos a dar mais valor à vida e a tudo o que ela nos dá de bom, que muitas vezes ignoramos e encaramos como algo normal. Sem dúvida que cada dia que passamos com saúde é como uma pérola preciosa, que devemos agradecer e valorizar.
Percebemos, também, que não é só nas palavras transmitidas que está o conhecimento. Um gemido, um piscar de olhos, um sorriso e, em especial, a vontade de viver o dia-a-dia, esperando que o dia seguinte seja melhor do que aquele que passou, demonstrando uma força interior enorme, é o principal conhecimento adquirido e que devemos colocar em prática. As palavras tornam-se menos relevantes quando os casos, na sua flagrante realidade, invadem os nossos olhos e se aninham na alma. Como diz o pensador Augusto Cury, efectivamente, “é nas coisas mais simples e anónimas que se encontram os maiores tesouros da emoção”.

Maria João Amaral, Nº 20, 11º B
Fevereiro de 2009.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

13 de Janeiro na vida duma adolescente

Realmente, o dia 13 de Janeiro ficou inteiramente marcado pela diferença. Assim, que se passam as portas do edifício do Centro João Paulo II tudo se altera. Os corredores são silenciosos, tal como a vida dos muitos que aqui vivem.
A atmosfera vivida por nós era de plena expectativa. Eu, pessoalmente, nunca tinha convivido com nenhum deficiente profundo. Sala por sala, pessoa por pessoa, todos eram tão diferentes. Uns mais dependentes onde apenas reinava um mundo de silêncio, onde tinhamos alguma dificuldade em perceber se a sua consciência nos escutava, nos entendia. Outros, por outro lado, que apresentavam um grau menor de dependência, tinham a capacidade de comunicar e expressar-se de maneira a que os outros os entendessem.
Era difícil distinguir idades visto que a fisionomia era semelhante. No entanto, o que me despertou mais em cada um deles foi realmente a sua riqueza psicológica, extinta há muito da sociedade egocêntrica onde vivemos. Nas suas expressões havia uma musicalidade, uma poesia que nenhum poeta conseguiria traduzir.
Naqueles momentos percebi que apesar de tudo não damos o devido valor ao que temos. Nem eu, nem todo um conjunto de pessoas que eram conotadas de “sociedade”. Todos sabiam pedir mundos e fundos. Todos sabiam falar dos carros de topo, das roupas caríssimas que na opinião da maioria eram as mais chiques. Todos sabiam falar de um bem que, infelizmente, faz girar o mundo: o dinheiro. Mas, no fim das contas, vejo alguém suplicar por carinho e atenção. Aqueles meninos e meninas, homens e mullheres “encurralados” entre quatro paredes, percorridos alguns por tubos e tubos, percorridos pela doença, pela solidão, pela indiferença de muitos, quiçá pelo desprezo de toda a família, lutava não por um bem material mas sim por um bem a nível sentimental. E, mesmo com todas as vicissitudes da vida continuavam a sorrir, a serem felizes. Continuavam a pintar, a desenhar, a cantar, a desenvolver actividades e a provarem que têm muito talento.
Confesso que toda esta visita provocou uma profunda alteração na minha maneira de pensar e de estar. Antes, apoderei-me de uma revolta consumidora e frustrante. Agora sou tomada por uma força súbita, um despertar rápido e objectivo.
É preciso encarar isto, como mais um sinal de que é preciso agir, que não nos devemos remeter ao nosso próprio umbigo, que não devemos viver em torno de nós mesmos, não podemos viver das aparências, do egocentrismo, do “a mim nunca me acontece nada disso” .
Finalmente apercebi-me que não nos podemos acomodar, que ninguém tem posto fixo e garantido eternamente na Terra. Mas que, independentemente do tempo que aqui passarmos, podemos torná-lo melhor e mais agradável para todos aqueles que nos rodeiam. Temos o dever de o fazer, de estender a mão a quem não tem qualquer outra pessoa para a dar, de não viver das palavras mas sim dos actos.
Falta garra ao Mundo, falta energia, falta convicção.
É incrível, como há tanto que precisa de ser mudado e tão poucas pessoas dispostas para o fazer.
E é ainda mais alucinante e fantástico, como um simples gesto conseguimos arrancar um sorriso.
Enfim, há lugares em que nos sentimos puros seres cheios de tudo e de nada. Obrigada por me mostrarem o verdadeiro significado da vida.
Ana Mafalda Abrantes